Viagem ao Irão

Irão? Porquê o Irão? Pode não ter sido nunca uma pergunta que me tenha ocorrido, mas saiu da boca de todos aqueles a quem disse para onde ia de férias.

Quem nunca sonhou com um tapete persa voador? Ter uma lâmpada mágica? Viajar nas mil e uma noites? Era a Pérsia que me fascinava quando me sentava a vasculhar blogs de viagens.

Ninguém do meu rol de amigos viajantes ia alinhar nesta aventura. Quieta eu, também não podia ficar. Num turno da noite, e por impulso, inscrevi-me numa tour organizada que atravessava o país.

A confirmação da viagem surgiu meses depois. Nunca me tinha inscrito em nada do género, muito menos sem ninguém conhecido por perto que me servisse de âncora. E agora? E se não me adapto? E se não gosto das pessoas? E se não gostam de mim?
O aperto no estômago que subia até ao nó na garganta e as mãos suadas da ansiedade por não poder antever nada, desvaneceram-se quando aterrei em Teerão. Fui premiada com um leader e dois casais que rapidamente me adotaram. 

Senti-me uma pequena esponja que tenta absorver com sede as experiências partilhadas, as histórias de vida e os conhecimentos diversificados. Soube-me bem conhecer novos mundos e dar-me a conhecer. Só por aqui já valia a experiência, estava desmistificado o estigma das tours organizadas.

Locais no Irão
As minhas férias no Irão - Deserto

Foi o primeiro país, onde após o “Where you come from?” surge colado um “Welcome to Iran. Welcome to my city”. As pessoas cruzam-se connosco na rua e sorriem (sim, sorriem só porque sim). Podem não dizer nada mas cumprimentam os turistas, têm curiosidade de saber de onde chegamos e para onde vamos, querem saber se estamos a gostar, oferecem-nos comida sem nunca trocarmos uma única palavra, tocam-nos para perceber se somos iguais e anseiam partilhar pixéis fotográficos. Fazem-nos sentir especiais.

Confirmei os dados estatísticos, é um país seguro e de pessoas fantásticas! A inexatidão da ideia contrasta com a precisão da realidade.

É este o Irão que não nos entra em casa e que não se assemelha à imagem que a maioria tem. Um país que descansa à quinta-feira e à sexta-feira, numa praça com a família em registo de pic-nic, o que sai à noite para beber um chá, o que permite ao turista andar de mochila descontraída virada para trás e o que o ajuda a perceber os preços marcados em rials (moeda oficial) ou tomans (como vulgarmente os preços estão identificados).
A riqueza da palete de cores das mesquitas invade-nos a alma, a história da pérola da Pérsia faz divagar no tempo, a devoção dos muçulmanos é inspiradora, a simpatia do povo motiva e a água quente da ilha de Ormuz purifica.

Nesta minha viagem ao Irão atravessei o país sempre de mangas e calças compridas e de hijab (lenço mais comprido) na cabeça, uma república Islâmica assim o exige sob multa ou pena de prisão. Enquanto mulher e turista fui bastante respeitada, ninguém invade a nossa bolha de espaço ou nos dá um encontrão sequer.
As paredes da embaixada americana em Teerão dão conta de um gosto amargo aos americanos e as fotografias espalhadas por Abyaneh (aldeia património mundial da UNESCO) retratam rostos perdidos no Iraque. Mas não, não há balas de metralhadoras nas paredes e não se ouve falar em sanções ou mísseis.

As únicas lutas que o turista enfrenta são: a gincana às motas que teimam em circular no passeio e aos condutores que enfiam carros em faixas imaginárias, mas nem de perto nem de longe respeitam uma passadeira para peões.

Durante as duas semanas no Irão tentei contactar com os diferentes alojamentos. Dormi maioritariamente em alojamentos locais, onde quartos com vitrais coloridos se concentram para jardins interiores. Fugi uma noite para uma tenda no Dasht-e Kavir (deserto) onde a fogueira é a melhor aliada para aquecer um magnifico céu estrelado. Não esquecer nunca que a maioria das sanitas exige uma boa condição física nas pernas e os duches têm a dimensão de toda a casa-de-banho.

O que comer no Irão?

Quanto à gastronomia no Irão, essa varia entre o dizzi (caldo de borrego esmagado com um pilão) servido quando nos descalçamos para nos sentarmos “à mesa”, os kabab koobideh (kebab) de galinha e peixe, o tashini estaladiço (espécie de arroz colado ao fundo do tacho), o sangague (pão mais fofo), o lavasse (pão mais fino) e o biriani (hambúrguer de borrego). Deliciei-me com os gelados de água de rosas e açafrão.
Não é de estranhar que, depois de dizer de onde somos, nos ofereçam uma laranja, uma portucale, afinal de contas fomos nós que as levámos para lá.
Sepaz (obrigada) Irão. Xodâ hâfez (Adeus).

Cátia Alves

Enfermeira