Viagem ao Japão, a Terra do Sol Nascente
Não vos escrevo sobre lista de sítios turísticos que para isso já existem mil livros, muito menos sobre o que devem levar numa viagem ao Japão, mas sim sobre algumas dicas para quem viaja sem guia.
A população do Japão é mais de dez vezes superior à nossa, num território que é apenas 4 vezes superior. Espante-se quem acha que é caótico. É o caos organizado que apetece trazer na mochila, onde a hora de ponta no metro se faz em fila para entrar nas carruagens, para sair das estações, para subir ou descer escadas. E se faz em silêncio. Não se fala ao telemóvel nos transportes públicos e as conversas são escassas, todos se focam nos gadgets e nos pensamentos.
O sentimento de segurança é transversal a todos os sítios por onde passei. É claramente um país onde as mulheres podem viajar sozinhas (inclusive para sair à noite), em que ninguém quer enganar ninguém e o chamado “chico espertismo” não se concretiza.
Outra das coisas que fascina o comum ocidental é a limpeza. Todos os espaços estão meticulosamente limpos, ao ponto de nos esquecermos que não estamos em casa e abolimos o uso dos chinelos. Portanto, na hora de fazer reservas em locais com casa de banho partilhadas, façam a escolha sem medos.
Nesta visita à Terra do Sol Nascente, quis vivenciar os diferentes alojamentos sem descurar a parte económica. Os hotéis cápsula, criados para dar resposta a empresários que viajam sozinhos, são uma opção bastante económica e engraçada. Os claustrofóbicos que respirem de alívio, porque há cápsulas onde se consegue estar confortavelmente sentado. Os ryokans, são alojamentos típicos, onde dormimos em futons (é um tipo de colchão tradicional japonês) e o cheiro dos tatamis (é um tipo de tecido de palha entrelaçada, usado como tapete ou revestimento no piso tradicional japonês, feito de palha de arroz) nos invade as narinas. Tal como os hotéis cápsula, são experiências a usufruir.
No Monte Kōya, cidade considerada património mundial pela UNESCO e centro do budismo esotérico, fiquei instalada num templo. Não é a opção mais económica, mas a possibilidade de assistir a uma cerimónia budista compensa o dinheiro investido. Os olhos inchados do despertador tocar às 6h00, são apaziguados pelo arrepio na pele quando ouvimos recitar mantras.
Em Tóquio, optei por um apartamento, o que, para além de nos transportar para a realidade local, permite fazer refeições em casa. Na hora da marcação do alojamento, é pertinente ter também em conta que em algum dos locais existam os banhos onsen (águas termais). Assim, a uma agradável experiência spa acrescentam a poupança de mais uns iémens.
A gastronomia é uma temática difícil de agradar a todos, mas a do Japão, por um ou outro motivo, deixa saudades. Primeiro estranha-se, depois entranha-se. Não deixem de premiar as vossas papilas gustativas com ramen, miso, gyudon, udon, okonomiyaki, nikuman e sushi, claro! É o paraíso do chá verde (matcha), desde gelados estupendos até aos “kit-kat” passando pelos choux. Contudo os dangos, quer com pasta de feijão doce ou soja, não atrairam fãs.
A vasta rede de supermercados permitiu-nos ter acesso a comida confeccionada, mais barata, tradicional, e igualmente saborosa. Podemos solicitar que nos aqueçam de imediato e nos forneçam os pauzinhos.
Viajar para países onde a língua é tão díspar da nossa, suscita a curiosidade em aprendermos algumas palavras. Konichiwa (olá), arigatô (obrigada) e sumimasen (com licença) foram as usadas diariamente. A utilização da palavra sumimasen, na abordagem aos japoneses antes de qualquer questão e também nos transportes públicos, acarretava sorrisos rasgados, acenos de cabeça, desvio rápido de pessoas e uma facilidade em nos movimentarmos nos transportes públicos.
Falando-vos de Kyoto, uma opção vantajosa, é a compra de um bilhete diário de autocarro na estação central. O bilhete permite uso ilimitado nas 24h seguintes a ser utilizado pela primeira vez. Já agora, nos autocarros, a entrada dá-se pela porta traseira e a saída pela dianteira, onde aí sim se “pica” o bilhete.
Finalmente, para todos aqueles que gostam de tirar “aquela” fotografia, levar uma infinidade de memórias no cartão da máquina ou no telemóvel e ter os cenários idílicos só para vocês, desloquem-se cedo aos locais mais turísticos, como Fushimiri-inari (templo central de Inari Ōkami) ou à Floresta de Bamboo. Perceberão o que vos digo à saída.
Cátia Alves, Enfermeira.