Viagem a Marraquexe
Esta foi uma daquelas viagens que, se ainda vivessemos na época dos contos de fadas, podia bem começar com um:

Era uma vez…

Não muito distante do nosso país, mais precisamente a 1h30 de voo, aterrávamos em Marrakech. Lembro-me de me ter sentido imediatamente absorvida pelo calor e pelos cheiros característicos da cidade vermelha. À saída do aeroporto, recordo o frenesim dos motoristas a oferecerem os seus préstimos. Um deles chegou mesmo a arrancar-me a mala da mão. Acabámos por escolhê-lo sem regatear preços. Estávamos, ambos, muito mais preocupados em captar a dinâmica da cidade que emergia à nossa volta. O taxista falava-nos em francês, nós respondíamos-lhe em inglês. A comunicação foi clara. Chegámos ao nosso destino: Riad Adika, no centro da Medina.

Num primeiro olhar pelo Riad (uma típica casa marroquina), situado no interior do interior da Medina com acessos muito recônditos, este pareceu-nos estranho. Inclusivamente, comentamos como é possível um Riad caber ali. Na verdade, o Riad revelou-se super acolhedor e romântico, o local ideal para ficar até mais do que uma noite, ao contrário do que tínhamos reservado. Visitámos a nossa suíte. O ar estava fresco, as toalhas e lençóis lavados, paredes brancas e cheirava a argão. O sentimento que se apoderou de nós, foi o de estarmos em casa da nossa avó.

O que fazer em Marraquexe?

 

Após termos bebido o tradicional chá de menta, quisemos experimentar caminhar livremente pelas ruelas, dentro da Medina. A experiência foi alucinante, parecia que o mundo todo cabia naquelas ruas: buzinas, comércio e pessoas, muitas pessoas. Porém, o ex-libris da confusão deu-se quando chegámos à Praça Jemaa el-Fnaa. A princípio, confesso, que tive dificuldade em compreender tudo o que acontecia à nossa volta:

 

Aguadeiros, encantadores de serpentes, macacos, artistas, comerciantes, chás, sumos de laranja, nativos e estrangeiros, tudo numa grande cirandagem.

Depois de admirar todo o ambiente, a interacção com os protagonistas foi fácil e divertida. O final da tarde foi imperioso, no rooftop do Café Glacier, tendo como fundo os tons quentes do pôr-do-sol e o aglomerado de pessoas que se moviam freneticamente na praça, que outrora fora palco de execuções de criminosos.

O que comer em Marraquexe?

O jantar no restaurante La Maison Arabe foi divino. Uma tagine de carne de vaca com tomate e cebola caramelizada. De lamber os dedos e chorar por mais (sem querer ferir susceptibilidades vegetarianas). De facto, não houve vez alguma em que a comida em Marrocos não me tenha sabido bem. E por falar em gastronomia, o pequeno-almoço servido no Riad, antes da nossa partida para o deserto, também não desiludiu: melão, laranjas, chá de menta, pão, queijo, msemmes (os típicos crepes folhados) com mel e amlou, uma espécie de nutella, mas com amêndoas, óleo de argão e mel. Já vos deixei com água na boca? Era essa a intenção…

 A campainha tocou. Era o guia, o nosso amigo Hmad, já tenho saudades dele. A nossa viagem a Marraquexe estava prestes a começar e algo me dizia que esta iria ser A Viagem.

Estávamos extremamente excitados. Os próximos três dias em Marrakesh estariam repletos de aventura, lugares e pessoas novas. Ainda hoje, consigo sentir o entusiasmo da travessia pela Cordilheira de Atlas, o olhar curioso dos berberes, recordar a quantidade de cordeiros que me passaram pela vista, o medo das estradas curvilíneas. Mas, o desejo torna-nos destemidos e a ânsia de chegar ao deserto era maior do que todo o pânico que pudéssemos estar a atravessar no caminho pelas montanhas.

To be continued…    

Isabel Calado Varela

Marketing Strategist & Freelancer