O testemunho de um Madeirense
Por norma quando nascemos e vivemos em determinado local acabamos por não disfrutar de todas as possibilidades e oportunidades. Eu tenho um espírito um tanto ou quanto impulsivo e quando me colocam um “porque não?” à frente, a resposta é sim. Então o que fazer na ilha da madeira no seu tempo livre? Ser turista.
E assim começou a volta à ilha! O primeiro sítio a visitar é o cérebro da Madeira: FUNCHAL.
Esta é fácil, pois foi onde nasci. O Funchal é a maior cidade de toda a ilha e aqui há algumas passagens obrigatórias. A Avenida do Mar merece logo um passeio de uma ponta à outra pela sua vista privilegiada. Paralelamente a esta têm a Sé do Funchal que costuma ser alvo de visita para os turistas.
O Mercado dos Lavradores fica lá muito perto. É um sítio interessante pela sua tradição. Para além das pessoas que lá trabalham estarem vestidas a rigor com o traje da Madeira (a Vilhoa e o Vilhão), aqui realiza-se a noite do mercado de 23 para 24 de Dezembro. A tradição era comprar os presentes que faltavam nas barracas, acompanhando a atividade com um ambiente festivo (e habituem-se, porque festa na Madeira tem poncha, mas já lá iremos). Hoje em dia é apenas uma festa temática com muita poncha e sandes de carne de vinho e alhos, um petisco regional. Mantém-se apenas a tradição de roubar uma tangerina. Todos vêem mas ninguém leva a mal.
Como é a Gastronomia na Madeira?
Passado o mercado chega a fome, e perto do mercado há um Restaurante muito simpático chamado Sabores.
Aconselho-vos uma refeição a modos de Madeirense: uma entrada de lapas com bolo do caco, um filete de espada com banana frita ou molho de maracujá (ou como nós dizemos: filhetespada) a acompanhar com uma Brisa (sumo com gás regional) ou uma Coral (cerveja da Madeira). No fim, deliciem-se com o Brownie de chocolate. Eles têm o melhor que já comi na vida. E assim estão prontos para uma tarde de aventuras. O Funchal é bonito e tem algumas atrações que valem muito a pena, mas na minha opinião é um local a ser visto ao longo das férias. Pelo menos se lá estiverem alojados ou nos arredores.
Os pontos de interesse de passagem obrigatória na Madeira
Peguem no carro e sigam para o Pico do Arieiro. A caminho façam um desvio, pois entre as montanhas temos o Curral das Freiras. Não precisam de descer até lá se estiverem numa visita de tempo reduzido, mas é engraçado ver uma população com cerca de 2000 pessoas a viver numa zona isolada pela natureza (no dia 20 de Fevereiro foi o local de mais difícil acesso). Quanto ao Arieiro, é o pico mais alto da ilha, com 1.818 metros e na maior parte dos dias a vista são nuvens. Estamos por cima delas, sentimo-nos quase como pássaros. Podem passear um pouco por lá, mas tenham cuidado e não saiam do passeio na parte superior da montanha. É isso mesmo, uma montanha, e cair fora do passeio que foi construído como zona de segurança pode significar uma morte no abismo. Mas não se assustem, é um sítio seguro, apenas precisam cumprir as regras.
No regresso, passem pelo Ribeiro Frio. É uma paragem popular entre turistas e locais devido às suas piscinas de cultura de trutas, mas não se fiquem por aí. Têm também um parque natural com cascatas lindas para explorar e inclusive uma levada.
As levadas são as veias que bombeiam o sangue para o coração da Madeira. São pequenos cursos que levam a mais fresca água até às ribeiras que, por sua vez, desabam no mar.
Em redor destes percursos têm toda a flora no seu esplendor. A mais conhecida é a do Caldeirão Verde que tem início no Parque Florestal das Queimadas. Não se mandem de cabeça para esta a meio de um dia, uma vez que tem a duração de aproximadamente 5h30 e convém sempre informarem-se sobre como as querem fazer, porque podem fazê-las de forma independente ou em grupo com um guia turístico.
Outra passagem obrigatória é Câmara de Lobos. Aqui temos não só mas também uma vila piscatória perfeita para beber uma poncha ou uma nikita. São ambas bebidas alcoólicas da Madeira mas muito diferentes entre si. A poncha tem uma base de mel de abelha com água ardente de cana e a partir daí leva ou sumo de tangerina ou de maracujá ou de laranja e limão ou simplesmente este último fruto. Foram nascendo outros sabores de poncha devido à sua fama, mas estes são os típicos. É uma bebida com corpo, perfeita para acabar com o frio que não desce muito dos 15º na maioria das zonas e é mexida com o famoso Caralhinho – o pau da Poncha. A nikita é quase uma sobremesa. Pode beber-se com ou sem álcool e tem uma base de gelado com sumol de ananás e é completamente deliciosa.
Aproveitem que estão na cidade dos “Xavelhas” e vão comer uma espetada. Há dois restaurantes que se destacam: A Ginja e O Viola. São ambos no Estreito de Câmara de Lobos. Não imaginem a espetada como carne em palitos, pensem numa mesa com um furo no meio com um ferro que serve de suporte para dois espetos de carne. Cada espeto tem qualquer coisa como 1 metro. Vão perguntar-vos se querem acompanhar com batata frita, mas não a escolham em prol do milho frito. Quanto muito, peçam ambos porque o milho frito não só é uma papa regional, como também fica delicioso, principalmente frito.
Uma salada, um bolo do caco e um bom vinho e estão prontos para um dos mais conhecidos e melhores pratos madeirenses. No final da refeição estão na hora perfeita para provar um vinho Madeira.
E um passeio de barco pela ilha da Madeira?
A esta hora estarão vocês a perguntar nas vossas cabeças onde são aquelas tão faladas piscinas naturais. Eu respondo. São no Porto Moniz e são tão fabulosas quanto parecem nas fotos, tenham apenas uma coisa em consideração: podem apenas ir lá para ver, e nesse caso tudo bem, mas se forem para fazer praia saibam que ficam na zona norte da ilha, pelo que as temperaturas baixam. Verifiquem apenas o tempo antes de ir para não perderem um dia de praia. Estamos numa ilha e toda ela tem mar. As praias naturais são de calhau ou areia preta, é uma ilha de origem vulcânica e honestamente, abram a mente porque as rochas fazem parte da experiência e deixam os pés macios. Afinal de contas, andar nas rochas será a última atividade que vos vai cansar fisicamente nesta vossa visita à Madeira. Alguns regionais dirão que não gostam de desporto, mas não há nenhum bom madeirense que não tenha pelo menos uma perna musculada em prol das subidas. E por falar em subidas, vamos mudar radicalmente de região porque neste momento na minha escrita, está muito a apetecer-me descer o Monte.
Aconselho-vos a apanhar o teleférico no Funchal. Sairão no Monte, muito próximo de um dos 10 melhores jardins do Mundo. Sim, do Mundo! O Jardim Tropical Palace. As plantas são exóticas e vêm de todo o mundo. Guardem um dia inteiro para esta aventura no Monte, até porque o próprio local é de cortar a respiração e mesmo fora do jardim há muita natureza. No regresso desçam de carrinhos de cesto. Sem medos! Não é perigoso, nunca houve nenhum acidente e parece mais rápido do que é na verdade. Para além disso, é uma experiência a ser levada no coraçãoesta
Se tiverem disponibilidade tirem pelo menos um dia para ir ao Porto Santo. É certamente das melhores praias de sempre e as fotos comprovam-no. Aliás, não tirando o mérito inegável, mas expressando livremente a minha opinião, o Algarve é apenas um substituto continental do Porto Santo. A ilha tem uma população de mais de 5000 habitantes (caso estejam a questionar a da Madeira, em comparação, são mais de 260 000).
Deliciados para marcar já as vossas férias na Madeira?
A verdade é que podia escrever 20 páginas sobre as melhores dicas para as vossas férias na Madeira, mas tive de resumir ao essencial. Não se deixem levar pela arrogância de conseguirem conhecer as ilhas em apenas uma semana. Isso não é possível, eu própria ainda não conheço todos os recantos e é natural, a mãe natureza não se revela de uma só vez, de um dia para o outro. Deixem-se levar, passeiem, vão onde falei e onde nem mencionei (como o Santo da Serra, que é só incrivelmente libertador e energético). Deixem-se levar numas férias na Madeira – se é qualidade de vida em Portugal que procuram, nem pensem duas vezes.
Como melhor altura para umas inesquecíveis férias na Madeira, eu recomendo vivamente Dezembro porque a festa que se faz não há igual em parte alguma no Mundo e o calor está presente sempre.
Tirando isto, não caiam nos típicos mitos como: “temos uma ponte que nos permite ir de carro até ao Porto Santo”, “quando a maré está baixa vamos a pé para as Desertas” ou “a rede telefónica da Madeira é a CR7”. São picardias saudáveis madeirenses como resposta a todas as piadas que os continentais fazem com as ilhas. Lista feita, estão prontos para aproveitar os pacotes de férias na madeira com tudo incluído da Troupi e aprender a GRANDE diferença entre o sotaque Açoreano e o Madeirense.
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